Possivelmente o game mais controverso dos últimos tempos, mas felizmente toda a polêmica que possa vir do título se concentrará no âmbito gamer e principalmente entre os fãs da longa e tradicional série de terror e ação da Capcom.
Um fã mais antigo poderá curtir o retorno de um ritmo mais lento com uma ambientação mais tensa e cheia de suspense que tornaram-se marca registrada da série na década de 90, enquanto que um outro fã, também das antigas, poderá criticar o game por ter saído demais do estilo, chegando até mesmo a dizer que não se trata de um “legítimo Resident Evil”. Ah, mas ele é! E como é!
A mudança na perspectiva – de terceira para primeira pessoa – é a principal e mais latente alteração. Motivo de apreensão para muitos que temiam que a série tomasse o rumo ainda mais frenético de ação dos FPS tradicionais no mercado como Call of Duty e Battlefield, ao invés de um retorno as origens, que remetia a clássicos de suspense como Alone in the Dark que muitos vinham pedindo. É claro que a perspectiva em primeira pessoa não é novidade na série, o jogador mais tradicional vai se lembrar do spin-off Resident Evil Survivor ainda no primeiro PlayStation que utilizava o mesmo tipo de jogabilidade.
Mas diferente deste spin-off que, diga-se de passagem, era bem fraco principalmente devido as limitações técnicas da época, RE7 coloca o jogador numa atmosfera completamente nova, com algumas passagens com muito suspense e tensão. Trata-se muito mais de um adventure em primeira pessoa com muita exploração do que um FPS de ação. E como disse, é sim um verdadeiro Resident Evil.
Mesmo que muitos possam dizer que retirando o título e algumas referências, o jogo poderia ser qualquer outro que não um Resident Evil, e em algumas partes realmente parece que nasceu como um projeto sem ligação com a série e que posteriormente teria recebido alguns elementos para torna-lo, de fato, um Resident Evil (mas aí eu estaria especulando), a verdade é que no começo essa impressão é bem forte, sobretudo pra quem experimentou a demo, que utilizava apenas a primeira parte do game, que realmente parece bastante distante de tudo que já vimos ao longo dos anos nos games da série.
Mas aos poucos os elementos vão se encaixando, as referências vão aparecendo e quando nos damos conta, estamos experimentando a familiar tensão e medo de encarar um chefe indestrutível que nos persegue durante o jogo todo. E não para por aí, temos ervas para recuperar energia, monitor cardíaco para monitora-la, a possibilidade de combinar os escassos itens para criar novos e baús para estoca-los, puzzles envolvendo quadros e relógios para abrir portas e liberar passagens. Num dado momento você estará em meio a um puzzle para trocar uma shotgun velha e quebrada por uma nova e funcional, felizmente aqui não corremos o risco de encontrar nenhum “Jill sandwich” pelo caminho rsrs.
Mas nem tudo são flores, apesar de uma mecânica muito bem implementada, o game possui puzzles muito simples e até mesmo pouco inspirados, a ambientação apesar de bem construída e envolvente, poderia ser melhor explorada com uma variedade maior de inimigos e momentos de tensão e suspense. A história vai sendo carregada no velho cliché onde todos sabem o que está acontecendo exceto você, e apesar de ficarem te ligando toda hora, nunca há tempo pra alguém simplesmente te dizer o que diabos está rolando.
Mas ao mesmo tempo que essa aparente simplicidade pode parecer algo negativo, é também um atrativo do jogo. Você sabe o que deve fazer, durante todo o jogo você tem um objetivo claro e o game te dá as ferramentas para cumpri-lo, basta saber explora-lo e usar aquilo que tem a mão para poder avançar. Dificilmente você se pegará andando em círculos sem saber pra onde ir, e isso é um ponto muito positivo do jogo apesar de que uns sustinhos a mais seriam bem vindos.
Nesse tipo de game a mecânica é algo que está intrinsecamente ligada a ambientação, neste caso, fatores audiovisuais são fundamentais. E o jogo é até bastante competente nesse sentido, você tem cenários bastante sombrios e até mesmo opressivos, mas em certos momentos alguns defeitos ficam muito evidentes como texturas de baixa qualidade, a movimentação de alguns personagens e até mesmo detalhes como cabelos com aparência um tanto quanto artificial e até mesmo estranha.
Por outro lado o som desempenha muito bem o seu papel, a música só se faz presente num tom de maior ação ao encontrar inimigos ou nas batalhas com chefes. Durante o resto do jogo a trilha sonora é praticamente inexistente e você tem a possibilidade de escutar seus inimigos caminhando, sabendo exatamente de onde estão vindo, há sons do ambiente e efeitos sonoros isolados que aumentam a tensão, além de um excelente trabalho de voice acting em todos os personagens.
A narrativa como dito é simples, você foi até Dulvey na Louisiana em busca de sua esposa desaparecida, acabou indo parar numa antiga e ampla propriedade infestada de gente doida e monstros que querem te matar e o seu objetivo é escapar com vida. Não se trata de um reboot, e apesar de praticamente não ter qualquer ligação com os antecessores, o jogo ainda se passa no mesmo universo, alguns anos após os acontecimentos em Racoon City.
Resident 7 não tenta reinventar a roda, pelo contrário ele pega várias características de outros bons games do gênero e até de filmes, como Jogos Mortais por exemplo, e as adiciona ao seu próprio mundo e ambientação. O resultado é um jogo com algumas pequenas falhas, mas que entrega uma diversão de qualidade, totalmente a altura de seus antecessores.
Ao mesmo tempo em que pode ser criticado por sair demais do estilo da série é também louvável a coragem de seus desenvolvedores em fazê-lo. Traz de volta a tensão e suspense dos primeiros games, e o faz adotando uma enorme mudança em suas mecânicas que, apesar de funcionar muito bem, poderá não agradar a todos.
Mas hey! Resident Evil 4 não marcou também uma grande mudança no estilo da série? E o mesmo não é aclamado por muitos até hoje justamente por isso?
Se Resident Evil VII viverá para se tornar tendência e referência na série só o tempo – e as vendas – pra determinar, mas eu gostaria – e muito – de novos games nesse estilo.
- Mecânica: 9
- Audiovisual: 7
- Narrativa: 8
Nota Final: 8,0
Versão de Xbox One
