Existe um velho ditado que diz: o diabo tanto quis enfeitar o filho, que acabou furando-lhe um olho.
E esta é a impressão que temos durante todo o tempo que passamos jogando Rise & Shine.
Assim que começar o game você vai se deparar com gráficos nada menos que lindos, cheio de detalhes, cores vibrantes, personagens cativantes com muito carisma. O som é também de ótima qualidade com excelentes composições que captam muito bem a atmosfera do jogo se encaixando perfeitamente nos momentos de maior tensão ou ação. Nestes quesitos o game dá aula, com certeza um dos jogos mais agradáveis, tanto sonora quanto visualmente, disponíveis no estilo.
A história do game é uma ótima sacada, intencionalmente clichê, e que se adapta perfeitamente ao estilo do jogo. Você controlará o garoto Rise que, quis o destino, fosse o portador da mítica arma Shine e com ela combater os nefastos vilões espaciais que querem destruir o seu planeta natal: Gamearth.
Aí está uma das coisas mais legais de Rise & Shine: sua ambientação é toda construída – e satirizada – usando-se referências dos videogames. Características triviais dos jogos como respawn infinito, a jornada do herói, entre outras coisas não são apenas citadas, mas tem todas uma razão de ser. Porque afinal este é um mundo de videogame, e é assim que os games funcionam.
Gamearth é um mundo de fantasia com localidades como RPG City e NPC Island. Possui um herói lendário que nos lembra um certo personagem de orelhas pontudas e é governado por um rei que … bem, é melhor você ver por conta própria. Sério, essa ambientação é algo que colocará muitos sorrisos no rosto dos jogadores mais antigos.
E não para por aí, ao longo de todos os estágios você terá inúmeras referências aos mais diversos jogos, atuais e antigos. Algumas gritantes como um cachorro sorridente (e odiado por muitos ao longo da história dos video games) explodindo a ponte por onde você está passando (não se preocupe, aqui você poderá atirar nele). Outras vezes bastante discretas, quase imperceptíveis em meio ao cenário, como um Flappy Bird em meio a outros pássaros ou estátuas de uma certa princesa.
A história em si é até simples, com um plot twistzinho lá pela metade, e uma quarta parede quebrada lá no final. Boa parte da diversão do jogo está justamente em ficar “pescando” as referências ao longo do gameplay e cutscenes, em certos aspectos o game parece até se apoiar demais nesses artifícios, mas não deixa de ser divertido mesmo assim.
Até aí você está empolgado e o game parece ser sensacional, mas é na jogabilidade que a coisa começa a desandar. Os controles em si não são um problema, mostram-se até que relativamente precisos, infelizmente isso não é o suficiente para contornar a mecânica, no mínimo imbecil, implementada no jogo.
Você controla o personagem com o direcional esquerdo e a arma com direito. Mira e atira com os gatilhos (na versão de console). Nenhuma novidade aqui, já tivemos vários jogos assim, mas neste a coisa não ficou boa. Parece que todo mundo hoje em dia quer ser Dark Souls, e a dificuldade aparentemente alta do jogo não casou nem um pouco com a mecânica escolhida pela galera da Super Awesome Hyper Dimensional Mega Team (sério, qual a necessidade disso? Não tem como taggear essa coisa no Instagram).
Veja bem, não sou contra games mais difíceis, pelo contrário, vejo com bons olhos jogos que exigem mais do jogador e não os bombardeiam com tutorias a cada dois passos. E nem considero Dark Souls um game tão difícil assim, trata-se de jogo onde deve-se ter paciência e reflexos rápidos sem qualquer assistência ou apoio durante o gameplay. Assim eram os games do passado e assim é Rise & Shine.
Você deve decorar a movimentação dos inimigos, da onde vem seus projéteis, observar o comportamento e seguir cada etapa até derrotar os chefes. Tudo isso seguindo o modus operandi a risca e sem afobação. É shooter 2D a moda antiga, ou melhor, seria se não fosse a mecânica toda zuada do jogo.
Em certos momentos, você deve alterar o tipo de munição que vai utilizar (normal ou eletrificada), e também a forma como ela vai se comportar (normal, teleguiada ou explosiva), para tanto você tem botões específicos para essas ações. Agora se imagine tendo que selecionar o projétil eletrificado e teleguiado, ao mesmo tempo que precisa esconder-se atrás de uma posição de cover, usar a mira e teleguiar o projétil passando por inúmeros obstáculos enquanto uma caralhada de inimigos atiram em você por todos os lados. Não é que seja difícil, muitas vezes é simplesmente frustrante.
Foram várias as vezes em que me peguei imaginando como o game seria divertido se simplesmente tivessem me deixado sair atirando a torto e a direito como se não houvesse amanhã. Uma jogabilidade mais tradicional a la Contra, Metal Slug ou mesmo um mais recente como Shank por exemplo, certamente daria uma dinâmica muito mais envolvente e desafiadora, ao invés do sistema de mira enfadonho e frustrante.
E talvez você possa pensar que no PC as coisas melhorem com o uso do mouse, sinto desaponta-lo, mas não. Fica sim um pouco mais fácil e intuitivo o uso da mira, mas a grande gama de botões junto as teclas WASD não tornam a experiência mais satisfatória.
Com uma jogabilidade mais simplificada, aliada aos visuais soberbos e som envolvente, a diversão seria desenfreada, certamente teríamos um clássico instantâneo. Infelizmente, quiseram “incrementar” demais e o filho desse pobre diabo acabou ficando caolho.
- Mecânica: 2
- Audiovisual: 10
- Narrativa: 8
Nota final 6,6
Versão de Xbox One