Se existe um gênero de jogos que sofre de pouca representação em consoles, é o de Estratégia em Tempo Real. Os RTS, ou Real-Time Strategy, têm controles que costumam exigir um grau de precisão motora que apenas um mouse possibilitaria, fazendo dos PCs uma espécie de fortaleza para jogos do estilo… Mas de tempos em tempos surge algum título que tenta quebrar as barreiras que limitam e prendem o gênero ao PC. Masters of Anima é o exemplo de como adaptar os controles do gênero a interface disponível em consoles.
O jogo acompanha o jovem Otto, um rapaz que não tem muito interesse na cultura ou nos estudos das artes mágicas que o povo do mundo de Spark costuma praticar. Otto só investe esforço suficiente para ser aceito pela sociedade e assim poder se casar com o amor de sua vida, que por acaso é uma poderosíssima maga com um papel muito importante na comunidade. Sua noiva, Ana, é encarregada de ser o centro da comunidade de Shapers, que são os estudiosos e manipuladores de Anima – a força que dá energia aos seres vivos e permeia todo o ambiente, capaz de criar Guardians, construções vivas ligadas a natureza.
A história começa com o protagonista completando os últimos ritos para ser um cidadão digno de Spark e assim ganhar a permissão para se casar com sua prometida… Mas neste mesmo dia um poderoso Shaper trai a socidade e traz a tona os golens, criaturas de pedra que ganham vida e só existem para destruir e corromper a natureza. Com sua noiva sequestrada, Otto parte para resgatá-la… E de quebra salvar o mundo inteiro.
Tudo é contato de forma bastante carismática. A devoção de Otto a sua futura esposa é cativante, e chega a ser cômico o seu desinteresse em preservar a cultura do seu povo ou mesmo salvar o mundo… Tudo isso não passa de consequência por salvar sua querida prometida. Todos os diálogos são dublados com grande competência, e contam com algumas vozes bastante icônicas da indústria dos games.
Masters of Anima é um jogo de Estratégia em Tempo Real. Você controla Otto com a alavanca analógica e usa botões para comandar seus soldados pelo campo. Sempre há um cursor um pouco a frente do herói, que é usado para mirar tais comandos. Você pode selecionar uma unidade apertando X, um grupo segurando o X (o círculo de seleção cresce progressivamente) ou todas de um mesmo tipo apertando X duas vezes. Ordenar ações e posicionamentos é feito com o botão A, enquanto B cancela ordens e chama os soldados selecionados de volta.
O que deixa o jogo dinâmico e estrategicamente profundo é o sistema de Anima, que é o combustível necessário para as principais ações do personagem. A todo momento você pode conjurar mais soldados de um determinado tipo consumindo um ponto de Anima, mas também pode dispensar algumas unidades para receber sua energia de volta. É importantíssimo prestar atenção a quais são os tipos de unidade mais importantes numa determinada situação, e também decidir quais soldados sacrificar quando necessitar da preciosa energia para ativar mecanismos, resolver puzzles ou ativar ataques especiais de suas tropas.
Além da complexidade de gerenciar recursos, o jogo conta um trabalho robusto de design em seus níveis. Cada capítulo do jogo tem um mapa bastante grande para ser explorado, com inúmeras rotas opcionais, caminhos escondidos e quebra-cabeças desafiadores. Há ainda momentos de batalha, que são surpreendentemente tensos – claramente projetados para exigir uma grande coordenação e visão tática das tropas e das unidades inimigas.
MoA faz um excelente trabalho em termos de apresentação. Apesar de usar modelos e texturas simples e limpos, a direção de arte consegue dar carisma aos personagens e beleza aos cenários. Esse leve minimalismo no design contribui na hora de compreender tudo que se passa nos momentos de ação, que trazem uma grande quantidade de informação exibida de uma vez na tela e podem chegar a dúzias de elementos simultâneos. As batalhas sempre são espetaculares, com inúmeros soldados lutando, partículas e projéteis voando e golens gigantes tentando trucidar Otto.
Enquanto o jogo não traz nenhum tema marcante, a trilha sonora surpreende por seu trabalho competente em criar tensão e transmitir emoções. Como já comentado na parte narrativa o elenco de vozes é de alta qualidade, com um trabalho de dublagem que ajuda a dar personalidade e carisma a cada personagem.
Masters of Anima entra para o restrito grupo de RTS bem executados em consoles, ao lado de séries aclamadas como Overlord e Pikmin. Com controles e mecânicas fáceis de aprender, o jogo rapidamente oferece desafios interessantes, seja explorando seus complexos mapas, resolvendo quebra-cabeças ou enfrentando inimigos colossais em batalhas de grande apelo visual e estratégico.
Narrativa = 8,5
Mecânica = 10
Audiovisual = 9
Vale os 20 dólares? Sim! É muito raro ver um bom Real-Time Strategy que dispensa mouse e teclado, e MoA é uma obra de alta qualidade em todos os aspectos.
Jogado na versão para Nintendo Switch