Em pouco minutos jogando The Long Reach já tinha conseguido perceber seu enorme potencial. O jogo faz algo diferente do que estamos acostumados, misturando gêneros e apresentações incomuns para contar uma história bastante interessante. Mas infelizmente o produto final não consegue desenvolver todo o seu potencial, e TLR acaba se tornando uma experiência maçante e repetitiva.
O ponto mais forte de The Long Reach é sua história e, em especial, sua atmosfera. O jogo conta a história de sobreviventes de um experimento científico que deu errado, enlouquecendo e bestializando todos os habitantes da cidade. Tocando em temas polêmicos como o confronto entre fé e lógica e os limites da ética na ciência, a trama é impactante e consegue prender seu interesse e sua atenção.
Soma-se a isso um trabalho caprichado para criar uma ambientação sombria e opressora. Tanto os cenários quanto os personagens insanos transmitem incrivelmente bem a impressão de que o mundo realmente está acabando. O mapa está repleto de cartazes, anotações e computadores para você ler e aos poucos entender o que houve e o que ainda está acontecendo com as pessoas e com o mundo todo… E o que pode ser feito para salvar a humanidade desta catástrofe.
É aqui que a premissa de The Long Reach cai por terra. Usando a jogabilidade de um sidescroller 2D para entregar uma experiência de aventura point-and-click, você coletará uma imensa variedade de objetos que pode usar como ferramentas para avançar através dos mapas e da trama.
A ideia é boa e por vezes parece que pode funcionar bem, mas o design simples e pouco ambicioso elimina boa parte da exploração – se tornando praticamente uma experiência linear. Para piorar, boa parte dos puzzles faz pouco ou nenhum sentido: raramente você vai concluir qual item usar em cada situação, contando com a sorte ou simples tentativa-e-erro. A impressão que você tem ao fim de uma sessão de jogo é de que você simplesmente avança até o próximo “puzzle” e experimenta todos os itens do seu inventário até algum funcionar e você avançar até a próxima cena narrativa ou outro “puzzle”. A experiência de jogo é repetitiva e cansa rápido, te fazendo considerar seriamente se vale o seu tempo só por causa de uma história interessante.
Seguindo a já batida regra dos jogos indies/obscuros, The Long Reach usa visuais em pixelart. O que o difere e torna interessante é sua sobriedade: Tudo é feito tentando respeitar proporções, cores e noções realistas, de forma que os momentos mais sobrenaturais e os encontros com monstros-humanos sejam bastante impactantes e até chocantes. Em contrapartida, o conteúdo mais macabro e o gore é amenizado pela arte pixelada, deixando claro que a direção de arte foi sim bastante acertada.
Pode soar estranho, mas o áudio do jogo se destaca justamente por não se destacar durante o jogo. O trabalho sonoro complementa bem o clima de tensão, desde o uso de barulhos repentinos que te assustam e te deixam alerta até as próprias melodias baixas e sem vida que reforçam a ambientação de uma catástrofe que pode significar o fim da humanidade.
The Long Reach é um jogo cheio de boas ideias. Sua história é surpreendente e envolvente e por vezes suas mecânicas se casam naturalmente e parecem algo familiar, apesar de se tratar de uma mistura bastante fora do convencional. Infelizmente o level design pouco inspirado e seus puzzles que beiram ao esotérico transformam uma ótima trama em um teste de resistência, onde seu maior desafio é enfrentar a repetitividade e o desânimo.
Narrativa = 8,5
Mecânica = 4
Audiovisual = 7
Vale os 15 dólares? Não. A frustração com a jogabilidade é demais para justificar a vontade de acompanhar a história, por melhor que seja sua escrita. Se quiser conhecer o interessante mundo criado para o jogo, espere uma promoção no Steam ou uma oferta generosa no HumbleBundle.
Jogado na versão para Nintendo Switch