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A House With Many Doors

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É sabido que a humanidade é completamente fascinada por histórias. Desde os tempos mais primórdios (sem Hermes e Renato, por favor), buscamos através dessa habilidade de confabular seja para nos divertir, seja para nos ensinar. Grandes histórias nos marcam com tanta propriedade que seria difícil explicar para um não-humano o motivo disto acontecer. Antigas histórias, como A Ilíada, Hamlet, Os Miseráveis e histórias mais recentes como The Walking Dead Game of Thrones prederam e prendem milhares de fascinados com seus personagens ricos, panos de fundo detalhados e cenários deslumbrantes.

A House With Many Doors segue este exemplo de narrativa que prende seu jogador, fazendo com que ele pareça quase um livro, só que jogável.

Isso é o kinetopede

Você, imediatamente, já desperta no jogo. Sem introdução prévia, sem boas vindas. O texto já te situa, brevemente, enquanto você decide se vai querer um tutorial ou não da forma mais orgânica possível. Após um breve diálogo que te situa, só mais ou menos, o que você tem que fazer e o que diabos é aquele negócio amarelo soltando fumaça, é que você pode explorar a Casa. A Casa é uma dimensão parasítica, que suga pedaços de outros mundos e habitantes para dentro de si. Para explorar esse lugar enorme, usa-se um Kinetopede ─ um tanque robótico que mexe com a imaginação dos steampunks de uma forma que só quem aprecia esse tipo de cenário sabe como.

O brilho do jogo está todo em sua narrativa. A forma como o jogo é escrito e contado, seus diálogos, a lore e o cenário são riquíssimos. Tudo remete ao bom RPG de Mesa, onde problemas são resolvidos com interpretação e dados. Não diferente em A House With Many Doors, diversos problemas podem e são resolvidos só no diálogo ou com testes de habilidade como numa sessão de RPG de Mesa. A riqueza desses diálogos só é eclipsada ─ talvez ─ pelo suntuoso cenário e background do jogo. Uma mistura muito fina de Steampunk com o Horror Lovecraftiano recheia as histórias de cada personagem de uma maneira muito agradável e atraente.

City of Knives

Personagens que, aliás, são os mais humanos (mesmo quando são zumbis ou homens-cabra) que já vi num jogo. Possuem personalidades e características distintas e muito acuradas, reflexo dessa revolução narrativa que A House With Many Doors se propõe a ser. Romances, brigas, relações de amizade e companheirismo, traição e tudo que você vê em grandes histórias de ficção. Aliás, o próprio enredo “principal” do jogo é muitíssimo interessante e te prende de uma forma absurda.

Mas A House With Many Doors é LOTADO de problemas.

O primeiro que podemos citar seriam os problemas mecânicos do gameO mapa do jogo é ridiculamente enorme! Muita coisa mesmo para ser explorada, mas, são cenários repetitivos e cheio espaços desnecessariamente vazios. Tirando os já citados fabulosos diálogos, tudo que você faz no jogo é andar por esses mapas e exploração textual por menus. Isso é realmente desanimante no jogo.

O combate dos kinetopedes é bem interessante a primeira vista. O embate pode ser feito de duas formas:
Diretamente, através de ataques com canhões ou “indiretamente”, quando os soldados e guardas da sua tripulação invadem, no maior estilo pirata, o kinetopede rival, tudo isso organizado em turnos ─ lembrando muito um clássico indie com a mesma pegada: FTL. Tal sistema é bem legal, possui bastante camadas de estratégia e pode render momentos interessantes, mas sua execução é feita de forma superficial demais e é muito mal explicada. Um exemplo primordial disso são os membros de sua tripulação.  Cada um desempenha um papel fundamental neste momento e alguns deles são bastante óbvios: Soldados e Canhoneiros garantem as capacidades ofensivas, seja por eles próprios, seja pelos canhões da sua máquina; médicos curam quaisquer tripulantes; engenheiros mantém todo o maquinário em dia e assim por diante. Mas como fazer com que eles desempenhem seus papéis não é explicado! Até entender que o círculo semi-transparente é o seu “raio de ação” e que o personagem só precisa estar perto do alvo da ação, demorou bastante. O suficiente para eu ter que começar dois ou três saves novos e me sentir muito frustrado.

A falta de uma interface gráfica clara e objetiva é, também, desanimadora. Os menus são confusos e os controles dentro deles não são muito claros, dificultando muito a apreciação das boas histórias que A House With Many Doors tem para oferecer.

O audiovisual não é primoroso, mas não é nenhum desastre. A direção artística dese jogo é simples: Artes muito bem desenhadas e remetem pinturas à óleo e a escolha de cores, sons e músicas, todos muito sutis e significantes, contribuem para o clima de desespero melancólico de A House With Many Doors. Mas, em certos momentos, a escolha de uma arte simples pode se tornar simplória. Durante o combate, os seus personagens são representados por pequenos desenhos que lembram muito meeps de um jogo de tabuleiro com animações que são poucas e, novamente, simplórias ─ isso quando temos.

A House With Many Doors é um livro que se joga. Com uma história fantástica, lore interessante e narrativa muito bem construída, é realmente triste que todos os problemas e erros fatais desse jogo nos empurrem direto para um abismo de tédio e frustração. Um jogo promissor, lotado de excelentes ideias ─ todas mal executadas.

A House With Many Doors está disponível via Steam.

NARRATIVA – 10
MECÂNICA – 3
AUDIOVISUAL – 7

Nota Final: 6,6

Versão de PC