Nos últimos anos o JRPG foi dado como morto. Mas desde 2015 o gênero tem recebido um novo sopro de vida, e parece que os estúdios orientais têm aprendido a se modernizar e a trazer novidades para o bom e velho RPG Japonês. I am Setsuna, o primeiro jogo do estúdio Tokyo RPG Factory, foi produzido com a benção da própria Square Enix – e se propõe a nos mostrar como o gênero ainda pode brilhar, mesmo sem precisar tomar mecânicas emprestadas de outros gêneros. O jogo é uma homenagem aos maiores clássicos da Era Dourada dos JRPGs (em particular Chrono Trigger e os primeiros Final Fantasy) e tudo que fez desses jogos obras que serão lembradas como odisséias épicas.
Narrativa: 7,5
I am Setsuna conta uma história sóbria e trágica. O jogador acompanha o grupo que guarda a jovem Setsuna em sua jornada para ser sacrificada e impedir os crescentes ataques de demônios ao seu mundo. Todos os eventos, a forma como os diálogos se desenvolvem e até mesmo o cenário e as músicas reforçam perfeitamente a mensagem do jogo para o jogador: Esta é uma história sobre tristeza, persistência e resistência contra todos os cruéis obstáculos que o mundo tem a oferecer.
A história e seus personagens são intrigantes o suficiente para manter sua curiosidade e sua vontade de prosseguir no jogo, mas estes fatores são emprestados ou fortemente inspirados naqueles dos jogos clássicos. Sendo assim, apesar de numa análise direta tudo parecer bem escrito e bem amarrado, é difícil evitar a sensação de que a história toda é um enorme clichê.
Mecânica: 8
Como um verdadeiro JRPG, o jogo possui enormes mapas para o jogador explorar. Não há encontros aleatórios, e se aproximar por trás dos inimigos oferece vantagens de iniciativa em combate. Falando em combate, o sistema usado é praticamente o mesmo de Chrono Trigger: combate em turnos, mas com uma barra de ação que se preenche gradativamente (Active Time Battle, ou ATB), onde posicionamento de personagens influencia a área de acerto dos ataques e os personagens podem atacar em conjunto (em duplas ou trios) para obter efeitos devastadores.
O jogo traz um sistema chamado Momentum Bonus, que permite que um personagem potencialize o efeito de sua ação se o jogador pressionar um botão no momento certo. É possível também não agir quando a barra de ATB está cheia, o que faz um medidor de SP começar a ser carregado, e que aumenta ainda mais os bônus de Momentum. Estas mecânicas trazem um pouco mais de dinamismo ao jogo e são muito bem vindas, mas um jogador que domine o tempo de ativação dos Momentum Bonus rapidamente deixará de sentir qualquer dificuldade em combate.
Níveis definem apenas o HP de um personagem, sendo necessário ficar atento a novas armas e armaduras que melhorem os outros atributos. Há também poderes e técnicas especiais para se habilitar através de itens que são equipados nos personagens.
Em geral, todas as mecânicas e sistemas parecem ser adaptadas de algum grande jogo do passado. A mistura funciona bem, mas nem todos os jogadores vão apreciar a repetitividade intrínseca do gênero.
Audiovisual: 9
I am Setsuna traz lindas paisagens para o jogador admirar e bons efeitos para embelezar as batalhas. Um efeito especialmente caprichado é o do rastro que os personagens deixam ao caminhar na neve.
A direção de arte escolheu usar modelos mais cartunescos nos personagens, o que apesar de não combinar completamente com o tom do jogo, realça a personalidade de cada um. O jogo em geral é muito bonito de se ver e corre sem problemas, mas não há muita cor ou variedade: Há campos cobertos de neve, cidades cobertas de neve e ruínas cobertas de neve. É isso.
Por outro lado, a trilha sonora é impecável. As músicas são marcantes e acentuam perfeitamente o tom melancólico do jogo. Há longas passagens com solo de piano que fazem você se sentir sozinho no mundo e caminhando rumo ao seu próprio fim… Exatamente como a heroína Setsuna deve se sentir ao longo da jornada.
Considerações Finais:
Se você sempre foi um amante dos JRPGs, I am Setsuna é para você. O jogo é uma compilação de tudo que há de bom no gênero, homenageando e usando todos os recursos de mecânica e de história que consagraram os grandes clássicos dos anos 90 como Chrono Trigger e Final Fantasy… Mas o jogo também expõe os pontos mais fracos do gênero, que nossa nostalgia geralmente omite da memória. O jogo pode ser repetitivo e, dependendo da sua habilidade (ou paciência para subir níveis) até trivial. Em geral, um grande jogo para um pequeno nicho – para os demais, talvez apenas um grande clichê.
NOTA
Narrativa = 7,5
Mecânica = 8
Audiovisual = 9
GERAL : 8,2
Versão de Nintendo Switch