A década de 80 foi uma das coisas que o mundo jamais vai esquecer. A convolução política da época criou um efeito tão absurdamente mágico que, até onde meus olhos podem visualizar, jamais teremos algo parecido com isso novamente. Era tudo muito escancarado, livre ─ aberto e permissivo, muitas das vezes ─, uma época que se me pedissem para definir em uma única palavra, eu diria “crua”. Ou talvez “visceral”.
Eu mesmo não a vivi: Peguei uma rebarba dela, no até a primeira metade da década de 90. Mas assisti aos grandes clássicos de atores como Charles Bronson e Steven Seagal, que é onde Beat Cop se inspira com a força de mil sóis ardentes (sem exagero).
Você é colocado na pele de Jack Kelly, antes um detetive investigando um caso especialíssimo, mas que cai numa arapuca e se vê rebaixado para um policial de ronda (beat cop, em inglês). É aí que as coisas ficam interessantes.
A narrativa não-linear de Beat Cop pode deixar uma certa confusão no ar, pois de primeira, é realmente complicado de acompanhar as pequenas nuances e retalhos que são costurados à história principal: sua relação com a máfia italiana e com a gangue local são só um exemplo. A história “principal” de Beat Cop é brilhante, embora sua execução tenha alguns probleminhas, mas são nas pequenas storylines que o jogo realmente se destaca, fazendo você sentir-se presente e vivo dentro do ecossistema do seu local de ronda. Você vai ajudar a máfia ou a gangue local? Vai aceitar a propina ou multar o cara que tá com o farol quebrado? E isso só é mais levantada pelas linhas de diálogo, engraçadas, coloquiais, sujas e muito boas; e pelos personagens, cada um extremamente estereotipado de acordo com a nacionalidade, mas desempenhando papéis fundamentais para a macro e a micro-narrativa de Beat Cop.
O aspecto visual e sonoro de Beat Cop é uma viagem proposital no tempo. Os gráficos pixelados minimalistas dão um feel de Atari com esteróides, pois embora sejam de uma estética minimalista, são paradoxalmente bem trabalhados e não atrapalham em nada o reconhecimento por parte dos jogadores. A trilha sonora remete aos filmes policiais da década de 80 e, se você viveu essa época, sua nostalgia vai gritar alto no seu ouvido.
No que tange a jogabilidade de Beat Cop, posso dizer, com segurança, que é uma das coisas mais legais que já joguei, com notas de um jogo como Papers Please. Além de desenvolver a história de Jack Kelly, você É um policial de ronda e, por tal, deve fazer seu serviço de forma satisfatória, obedecendo às missões diárias dadas a você pelo seu chefe (geralmente, um número x de multas). Sem isso você não recebe seu salário integral e compromete TODA a sua vida no jogo.
Estamos falando de um meticuloso e rebuscado jogo de management de vários aspectos diferentes. Você deve, como polícia de ronda, aplicar multas, chamar reboque, deter crimes, se alimentar, realizar missões e tarefas, ajudar transeuntes e ainda desvendar os mistérios da armação que fizeram para você… tudo isso de 8 da manhã até as 17:30! Em determinados momentos você se vê no frenesi de realizar cinco ou seis missões ao mesmo tempo enquanto se preocupa se a grana vai ser o suficiente para você pagar a pensão alimentícia da sua ex. Infelizmente, as vezes os dias se passam e você se pega realmente cansado das repetições e de problemas mais chatinhos, como o fato de não conseguir controlar o personagem pelo teclado (só no mouse) e que esse esquema de controle seja bem chato; ou o fato de não conseguirmos pular diálogo sem ser pelo “clique” do mouse ─ mas no geral, a experiência é bem satisfatória.
Tenha você vivido a década de 80 ou não, Beat Cop é uma experiência recomendada para aqueles que curtem pouca linearidade e uma história densa e rica, elementos de gerenciamento mais hardcore e com deadlines apertados, e muita inspiração em filmes policiais.
Narrativa – 8,5
Mecânicas – 9
Audiovisual – 8
TOTAL: 8,5
Este review foi feito com o código gentilmente cedido pela Pixel Crow. Obrigado!
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