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Como qualquer outra forma de arte, videogames podem ser usados para mandar mensagens. Seja para expor um problema social, seja para dar uma opinião ou posição política ou para trazer ao público uma cultura pouco conhecida, nossa indústria é melhor do que todas outras em seu potencial de comunicação, pois interatividade traz engajamento e envolvimento.
Por vezes, NORTH parece tentar mandar uma mensagem crítica e séria sobre aspectos da sociedade… Mas a comunicação nunca fica clara, sendo nublada por uma apresentação desinteressante e jogabilidade obtusa.

North 5
Sua “casa” é um buraco compartilhado com estranhos, doentes e/ou degenerados.

Narrativa: 8,5

O tema principal do jogo é uma crise de refugiados e suas implicações. A história acompanha um recém-chegado na grande cidade do norte, um imigrante vindo de algum lugar horrível de se viver ao sul. Perdido, confuso e até mesmo incapaz de se comunicar plenamente, o refugiado deve explorar a cidade e entender o que precisa fazer para ser aceito como um pleno membro da sociedade.

Enquanto tudo que você vê e faz parece incompreensível a primeira vista, NORTH incorpora um recurso narrativo bastante interessante na forma de cartas que o refugiado escreve a sua irmã, que ainda não fugiu da cidade natal. Através destas, é possível desvendar um pouco do que está acontecendo ao seu redor e obter pistas sobre seus próximos objetivos na cidade. A escrita é bastante orgânica e convincente, e ajuda o jogador a se identificar e se conectar com o refugiado.

North 4
Apesar de seus problemas, o jogo tem uma direção de arte interessante.

Mecânica: 4

Enquanto a narrativa e a temática ainda se mostram interessantes, a jogabilidade parece servir apenas como um inconveniente, um obstáculo entre você e as respostas que procura. Os controles são bastante confusos, sendo que a única constante são as alavancas duplas para se mover e para mover a câmera. Fora isso, muitas vezes você vai precisar experimentar pressionar botões aleatoriamente até descobrir qual deve ser apertado… Algumas vezes o jogo explicita na tela uma mensagem no formato ‘Aperte A para fazer Z’, mas estas mensagens claramente não aparecem com a frequência necessária.

A progressão do jogo se resume a encontrar o próximo lugar onde você deve ir e então interagir com alguém ou algum objeto, liberando a possibilidade de escrever uma nova carta para sua irmã e avançar a história. Há alguns ocasionais “puzzles”, mas estes não são muito claros e podem facilmente se tornar uma fonte de grande frustração. Algumas vezes a última carta escrita para sua irmã pode fornecer alguma dica, mas NORTH não oferece uma opção para reler cartas enviadas no passado, o que dificulta o jogo e só aumenta a frustração.

Falando em não oferecer recursos, NORTH é o jogo mais cru que eu experimentei em muito tempo. Você não só é incapaz de reler cartas já enviadas, mas não tem como pausar o jogo e nem mesmo salvar o seu progresso (!). Cada vez que você inicia o jogo, precisa começar do zero. Felizmente é possível completar tudo em menos de uma hora, mas ainda assim é uma decisão estranha e contra-intuitiva.

North 6
A todo instante você se sente perdido num mundo alienígena.

Audiovisual: 5

NORTH tem uma direção de arte singular e diferente, que combina bem com o estilo cult da obra. A civilização do jogo é monstruosa e macabra, a cidade em si é obscura e parece um labirinto, e a cultura e atividades da sociedade parecem completamente alienígenas, o que ajuda bastante a criar a sensação de ser um estrangeiro.

Mas os elogios acabam aí. Os modelos e texturas parecem uma produção de videogames de umas 2 gerações atrás, existe um filtro de imagem que constantemente dá granularidade e deixa tudo tão escuro que você terá dificuldade em enxergar alguma coisa. As músicas não são muito inspiradas, mas até ajudam a te deixar desconsertado, perdido e confuso.

Muitos tentam trabalhar para sobreviver e acabam perdendo a vida.
O trabalho de simbolismo ajuda a entender um pouco do que se passa.

Considerações Finais

NORTH se propõe a dar uma mensagem, a criticar a atual situação da crise de refugiados internacionais. Questões contemporâneas e relevantes. Mas infelizmente a apresentação desinteressante e inúmeras pequenas decisões de design e gameplay impedem que os jogadores sintam na pele todo o drama de uma pessoa perdida e isolada que vive de favores em uma cidade estrangeira.

North 2
Experimentando as frustrações de um refugiado, você deve esperar em filas para ser atendido.

Nota

Narrativa = 8,5

Mecânica = 4

Audiovisual = 5

Vale os 3 dólares? É difícil dizer. Se você estava procurando uma experiência curta e excêntrica que mascara uma crítica social relevante, talvez NORTH valha seu investimento… Senão, passe longe.

Geral: 5,9

Jogado na versão para Nintendo Switch

North 1
A religião da sociedade do Norte é fascinante e ao mesmo tempo perturbadora.