Conan, o Bárbaro é uma figura bastante conhecida dos fãs de cultura pop. Criado por Robert E. Howard nos anos 30, o personagem começou na literatura e foi migrando para outras mídias, como quadrinho, cinema, rpgs de mesa e claro, games. Conan Exiles é a mais nova aventura do bárbaro nos jogos eletrônicos – aliás nem tão nova assim, já que o survival game da Funcon ficou em early acess desde 2017, tendo o seu lançamento final somente agora em 2018.
E vamos começar tratando do elefante na torre, ou melhor, na sala: sim, esse é o jogo em que se pode definir o tamanho do “membro” do seu avatar. Embora outros jogos de sobrevivencia ja tenham seus personagens nus contra o mundo, esse detalhe na criação do personagem deu a Conan Exiles uma infame notoriedade. Para a decepção de alguns, esse “detalhe” não está presente na versão para consoles devido às restrições de classificação etária por parte das fabricantes. A opção do tamanho está lá, mas mesmo colocando no máximo não há nenhuma diferença de volume nas partes baixas personagem. Caso o espírito naturista do jogador fale mais alto recomenda-se a versão de PC, que não conta com nenhuma restrição de conteúdo, inclusive para personagens femininas.
Apesar do nome, Conan Exiles é muito mais um jogo sobre o mundo da Era Hiboriana (o período ficcional em que se passam as histórias de Conan) do que sobre o nosso bárbaro cimério preferido. O protagonista do jogo é um exilado anônimo, que o jogador pode escolher gênero, raça e aparência, que foi preso e condenado por crimes que pode ou não ter cometido e deixado para morrer crucificado no deserto. Nesse momento o próprio Conan aparece e se compadece do destino do nosso avatar e o liberta, partindo logo em seguida, mas não sem antes dar um discurso motivacional nada animador sobre como as coisas vão ser difíceis (e acredite, ele não está errado). A partir daí, meu amigo, é você contra o mundo.
O jogo realmente embarca no espírito de deixar o jogador a própria sorte: quase não há tutoriais além dos controles básicos. Todas as outras mecânicas como coleta, equipamentos, crafting de itens e até mesmo o funcionamento das habilidades e talentos não são explicados direto, exigindo um pouco de curiosidade e experimentação pra se entender como tudo funciona e mesmo assim ainda há espaço para surpresas após horas de jogo. Sério, as opções de construção e decoração são tão robustas que parecem que há um The Sims versão medieval escondido ali, além de um sistema de captura e escravização de inimigos, com direito a clássica roda da dor e tudo. Isso pode ser bem intimidador para os jogadores menos acostumados com esse tipo de fórmula, em especial por o jogo ser de uma burocracia digna de repartição pública quando se trata de liberar opções mais avançadas. Por exemplo, pra se fazer uma simples espada de ferro, é preciso comprar uma série de talentos no menu de habilidades, construir duas estruturas para crafting e ainda ir atrás de recursos que não são fáceis de se achar no mapa gigantesco. E isso é só uma das primeiras coisas.
Mas passada a dificuldade inicial (e muitas mortes por fome e sede), quando o seu personagem já tem uma casa e estruturas para gerar recursos, é que o jogo se transforma de um simples Survival para um Action RPG relativamente competente. O combate é simples mas funcional, com cada arma possuindo movimentos diferentes dependendo do tipo, além de escudos e outras armas de longo alcance. Durante o combate, mais importante do que reparar na sua barra de saúde é prestar atenção na barra amarela que determina a sua estamina: se ela zerar o seu personagem fica ser vigor e não pode atacar, bloquear ou se esquivar, tornando-o presa fácil, ainda mais quando se está lutando contra mais de um oponente. Outro inimigo que aparece na hora do combate é a taxa de quadros. Quando há vários combatentes na tela ocorrem muitas quedas de fps, o que atrapalha bastante a fluidez e se somarmos ainda as animações desajeitadas, bugs de colisão e inimigos ficando grudados no cenário, o quadro fica pior. Não que as lutas não sejam satisfatórias, ainda mais pela brutalidade e sangue envolvidos, mas está longe de ser algo espetacular ou mesmo polido.
Na parte gráfica Conan Exiles consegue impressionar, mas ao mesmo tempo decepciona em alguns detalhes. Os gráficos são acima da média para esse tipo de jogo, os modelos dos personagens e das armaduras são bem detalhados e bonitos, só que os cabelos e barbas são muito mal feitos, tanto na aparência como na física. Se você quiser deixar o seu bárbaro com uma barba de respeito, fique ciente de que ele vai parecer estranho 90% do tempo. Já os cenários, tirando talvez a área inicial no deserto e algumas texturas aqui e ali, são lindos e variados. Desde montanhas áridas, praias e florestas exuberantes, até terras cobertas de gelo e um vulcão mais ao norte. A iluminação também contribui bastante. É lindo ver nascer ou pôr do sol do alto de uma montanha, assim como é igualmente lindo e aterrorizante ver o céu ficar numa laranja/vermelho quando uma tempestade de areia potencialmente fatal se aproxima. A tilha sonora faz o arroz-com-feijão dos épicos de fantasia, com um tema principal cativante, mas nada além disso. O problema está nos efeitos sonoros, que sofrem com um constante atraso entre a ação e o som. É frequente você estar no mais absoluto silêncio, para só depois de uns 3 segundos ouvir o som das espadas se chocando.
Conan Exiles pode ser jogado tanto offline (sozinho ou cooperativo) quanto online (em PvP ou PvE). É sempre melhor desbravar o mundo com a ajuda de amigos ou interagindo com outros jogadores desconhecidos, ainda mais por o jogo apresentar dungeons e chefes que demandam um bom esforço para serem derrotados, só que durante o meu tempo com o jogo, a experiencia online não foi das melhores. Há uma lista extensa de servidores, tanto PvP quanto PvE, todos com suas próprias regras e modificadores a disposição, porém poucos deles são destinados a América do Sul e ainda assim leva uma eternidade para conseguir se conectar. E mesmo conectando a coisa não funcionava como deveria, pois o lag é presença constante, variando do levemente irritante ao completamente injogável. A esperança é que futuros patchs ou a adição de mais servidores ajudem a diminuir o problema e permitam que os jogadores dessa parte do continente possam aproveitar a melhor parte do jogo sem maiores aborrecimentos.
Apesar de ter passado mais de um ano em early acess, fica claro que Conan Exiles tem muitas arestas a serem aparadas. O misto de Survival com RPG ambientado num universo tão rico quanto o criado por Robert E. Howard é interessante o suficiente para cativar os jogadores, apesar dos problemas recorrentes. Pode não ser a melhor representação de Conan nos videogames, mas o jogo tem potencial e com o devido suporte, pode vir se tornar um título digno do maior herói da Era Hiboriana.
Mecânica: 6,5
Audiovisual: 7,0
Diversão: 8,0
Vale o preço?: Para quem é fã de longa data de Conan, quem curte jogos de sobrevivência e eventuais pessoas com espírito naturista, vale a pena com certeza. Só estejam cientes dos eventuais problemas com os servidores online.