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Divinity: Original Sin II Definitive Edition

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RPG até o talo.

 

RPG é um jogo muito legal. Tô falando do de papel mesmo: dados e lápis na mesa. Personagens sendo interpretados, aventuras, tesouros e, mais importante: Possibilidades. Enquanto em RPGs eletrônicos estamos presos a uma main quest (mesmo que este jogo nos permita dar o dedo meio tranquilamente para a quest principal – como Skyrim), é imutável que suas escolhas geralmente não fazem grande diferença. Divinity: Original Sin II  se apoia justamente no oposto.

Possibilidades e Liberdade. Prestem atenção nisso.

A premissa – que, sem rodeios, é super simples – serve só de pano de fundo: Você é um sourcerer, uma espécie de mago extremamente malvisto pela sociedade já que sua magia é capaz de atrair seres abissais – os voidwoken – que trazem caos, baderna e destruição por onde passam. Para evitar isso, a maioria dos Sourcerers tem seus poderes nulificados através de um grilhão especial e são levados até uma prisão numa ilha distante. Sua aventura começa no navio que está levando muitos destes sourcerers para Fort Joy, a prisão mencionada.

E é uma aventura mesmo, porque Divinity: Original Sin II leva a sério o RP de seu RPG. Cada escolha, seja dentro ou fora de combate, tem peso e tem consequência – mesmo que a curtíssimo prazo.

Spoilers leves adiante:

Assim que chega a Fort Joy, você se depara com sua primeira quest principal: Fugir de lá. Deste momento em diante, quests relacionadas aparecem (ou não) para você e, no fundo, você escolhe como vai fazer isso. Uma das coisas que me cativaram instantaneamente neste game aconteceu logo em seguida.

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Um outro sourcerer disse que tinha dois pares de luvas mágicas capazes de teleportar uma outra pessoa. Um dos pares está com eles,mas que uns jacarés (!!!) teriam comido o outro par. Então, ele diz que se recuperarmos o outro par, conseguiríamos fugir por um caminho que ele teria achado anteriormente. Topei a briga. Árdua e ferozmente, venci os jacarés e achei as luvas. Então, falei com homem e ele me guiou pelo caminho escondido e me mostrou como faríamos o quebra-cabeças de um teleportando o outro em sucessão até fugirmos da ilha.

Só que não fiz isso.

Por puro acidente, acabei teleportando-o para o local errado e acabei matando-o. Lá se foi minha chance, pelo menos com o par de luvas a mais. E essa foi a forma como eu lidei com isso. Porque você poderia simplesmente não ter ido aos jacarés ou, poderia ter ido, com uma equipe montada, derrotado eles, ficado com a luva e simplesmente ignorar o pedido do rapaz.

Suas escolhas, novamente, são importantes em Divinity: Original Sin II ─ raças, sexo e até mesmo personagens específicos influenciam em escolhas, linhas de diálogo e interações entre personagens ─ e, acima de tudo, você tem liberdade TOTAL para fazê-las. Só em Fort Joy mesmo, contei umas – sem exagero algum – dez formas diferentes de fugir do local. Aliás, Fort Joy é só a primeira parte do primeiro ato do jogo. E me demorei, nesta primeira parte, módicas QUATRO HORAS para findar – e findei o primeiro ato em 12 horas. SÓ O PRIMEIRO ATO. O aspecto narrativo de Divinity: Original Sin II é todo entremeado e complexo, com diálogos que ora beiram o absurdo, ora são engraçadíssimos (se seu personagem pode falar com animais, prepare-se para os diálogos mais hilários possíveis) e todos possuem propósito e chance de alterar o mínimo que seja na questline sendo realizada. O dragão acorrentado pode ser facilmente executado, já que não reage e ele possui muitos tesouros… mas libertá-lo poderia convertê-lo num poderoso aliado. Ou não.

De novo: Possibilidades e Liberdade. Prepare-se para gameplay de MUITAS horas. Muitas mesmo.

Divinity: Original Sin II é um jogo muito bonito, mesmo sendo um RPG tático, isométrico. Não é um primor gráfico que vai deixar você boquiaberto como a maior revolução que já existiu, mas é extremamente bonito. A complexidade das raças, as possibilidades de edição, além da trilha sonora climática, dão ao audiovisual um ar épico e mágico, que cai bem com a proposta do jogo. Mas é no aspecto mecânico que Divinity: Original Sin II se sobressai e anula qualquer feiura estética e funcional ─ como os menus confusos e o gerenciamento de itens que podia ser melhorzinho.

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Barril d’água no fogo: Fumaceira!

O jogo possui uma mecânica muito impressionante de interatividade com o ambiente e reação a tudo que você faz. Use uma magia de cura em algum NPC ferido e ele vai te curar, vender itens ou até mesmo aparecer em alguma outra batalha para te ajudar; Use uma magia ou item que espalhe óleo pela superfície e ateie fogo nela. Se você usar uma magia de água (ou um simples balde d’água) no fogo, você levanta fumaça – que te camufla dos inimigos graças a pobre visibilidade; água e sangue podem ser congelados ou eletrizados, e assim por diante. Dominar este fator faz toda a diferença no jogo. Batalhas inteiras podem ser vencidas ou perdidas por pura falta de atenção a este detalhe. E, como um jogo estratégico que só, Divinity: Original Sin II é bastante cruel com sua dificuldade, mesmo nos níveis mais baixos. Não pense que isso é Disgaea ou Final Fantasy Tactics onde batalhas podem ser vencidas puramente com estatísticas dos atributos e o aspecto tático acaba ficando em segundo plano. Toda a movimentação e posicionamento dos seus personagens faz uma enorme diferença. Por exemplo: um arqueiro dá mais dano quando está em lugares mais altos; Prender um inimigo numa formação de “pinça” te dá vantagens. Um talento específico para magos faz com que suas magias sejam menos custosas quando ele está numa superfície correspondente ao elemento a ser utilizado. Apunhalar por trás.

Como você vai lidar com os combates é inteiramente com você. Seja dando o primeiro ataque, seja sendo surpreendido.

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Divinity: Original Sin 2 – Definitive Edition

Outra vez: Possibilidade e Liberdade.

E, se somarmos a mecânica de superfícies elementais, temos um jogo que instantaneamente me lembrou de muitas mesas de D&D e Mage Knight que joguei. As magias são bem legais – em especial as necromânticas e mutagênicas, que são um show de utilidade e apelação.

E não pense que só porque na criação de personagens você deve escolher uma classe é que esta preso a ela. Aquilo, como em Dark Souls por exemplo, apenas é a linha-guia inicial. Como você vai montar seus personagens é inteiramente com você. Quer um mago que dá porrada de machado duplo? Pode. Quer um Arqueiro que invoca aliados e se teleporta para lugares altos? Pode também. Um sorrateiro ladino que se resolve mais no papo e menos na porrada? Pode também. A “ficha” de seu personagem é bem complexa e o game oferece muitas habilidades – combativas ou não – para colorir mais um mundo que é extremamente rico em lore e… mais uma vez: Possibilidades e Liberdade.

Divinity: Original Sin II é um jogo que tem que ser apreciado com calma. Não adianta rushar ou tentar resolver tudo na porrada, mas nada te impede de resolver tudo assim caso queira. Como num RPG de mesa, as vezes a saída está num item, numa linha de diálogo ou nas habilidades não-combativas.  O mais importante é: Como você vai fazer seu caminho é uma escolha, inteiramente, sua.

Tudo bem que alguns bugs, o item management fraquinho, os menus meio confusos e o framerate que as vezes sofre podem deixá-lo levemente chateado, mas é uma retirada mínima de brilho de uma estrela tão incandescente. Divinity: Original Sin II é uma obra-prima dos RPGs ocidentais e alguns JRPGs poderiam aprender sobre Role Playing com esse game.

Masterpiece.

NOTAS:

Mecânica – 10

Narrativa – 10

Audiovisual – 10