A grande força dos jogos Single Player está no enredo, e no quanto dele fica escondido do jogador até que se apresente. Marvel’s Spider-Man não só se vale desse óbvio conceito, mas também usa de outro conceito, que pouco é usado com o Aranha: familiaridade. Posso começar esse review dizendo que a melhor escolha de direção da Insomniac foi assumir que o aranha é um super-herói famoso. Não só isso, mas é um herói com o qual muitos fãs se identificam, justamente por ter o peso da vida adulta se equilibrando com as atividades extras que ele escolheu para si. De cara o jogo já tem um feito: é a obra mais avançada na vida do Aranha, fora dos quadrinhos. Os desenhos e filmes do personagem focam na história de origem (tio Ben morto, grandes poderes grandes responsabilidades etc), assim como vários outros jogos do teioso.
Aqui, Peter Parker já é herói há 8 anos. O peso da vida dupla pode ser sentido em cada momento da aventura, e o herói não tem um momento de folga, a história inteira. Cada decisão que ele toma pra equilibrar a vida pessoal e a vida de herói tem sua consequência sentida pelo jogador, com as curvas que o enredo vai tomando em torno da vida de Peter.
Gameplay
Pra essa análise, acredito ser interessante ressaltar os pontos mais relevante pra “experiência aranha”: a mecânica de movimentação com a teia e o combate. Vamos pela movimentação primeiro: é intuitiva.
Acredito que antes de continuar, vale a pena comentar a existência de Spider-Man 2, para PS2, Cube, Xbox e outros, de 2004. Esse jogo em particular foi um marco na existência do Aranha, porque numa das últimas semanas de seu desenvolvimento um único desenvolvedor criou uma mecânica que reverberou através das gerações: a física da teia colando nos prédios. Era uma física tão bem implementada, tão bem feita, que quase todo mundo que jogou o jogo na época passava horas vadiando pela cidade, só aproveitando pra descer o cacete num bandido aqui ou ali que aparecia.
Voltamos ao presente: nenhum jogo do aranha evoluiu significativamente essa mecânica. Pelo menos não até agora. Marvel’s Spider-Man pegou justamente aquela sensação de transposição de grandes espaços com facilidade e converteu para os tempos atuais. Se antes você tinha que “reduzir” a velocidade pra fazer curvas, agora você aperta X pra usar o equivalente a um Air Dash na direção que você quiser. Se você não tinha muito o que fazer quando chegava ao topo dos prédios, agora você aperta R2 + L2 e X, e pode escolher uma beirada da qual se catapultar adiante. Toda a mecânica de movimentação foi feita para você continuar em movimento (por mais óbvio que isso possa parecer escrito, o resultado final é sensacional), e o reflexo disso no gameplay é sensacional.
O combate é profundamente sugado da série Arkham. Isso está longe de ser ruim, uma vez que o combate dos Batmans é sensacional. Aqui há uma certa evolução do conceito. Quando havia dois inimigos separados, o morcego meio que voava entre eles. Aqui você tem que se deslocar entre um e outro, mas o jogo te ajuda nesse quesito te dando um botão exclusivo pra reduzir distância. Visualmente é mais agradável. Marvel’s Spider-Man está constantemente mesclando realismo com um estilo mais arcade. Lance um inimigo pro alto e você verá uma mecânica de fazer inveja num Marvel Super Heroes: o inimigo só desce depois que você termina o combo. Mas dentro desse mesmo ambiente aéreo, o Aranha se puxa com as teias para se esquivar de algum projétil.
Audiovisual
Marvel’s Spider-Man é impecável visualmente. A sensação de velocidade enquanto você se desloca pela ilha de Manhattan é quase palpável. O efeito de impacto nos inimigos – e em você – realmente dá um peso para os golpes. A música acompanha as atividades do Aranha – durante o balançar de teias uma orquestra te acompanha. Aliás, vale comentar que o jogo tira sarro dos outros jogos – e filmes – do aranha. Dizer qual sarro e quais obras seria o maior desserviço que eu poderia prestar com esse review.
Narrativa
É muito difícil falar da história sem entregar nada que fez parte dessa jornada. Basta dizer que ela é bem direta – às vezes pegando o jogador pelo braço demais, como parece ser um mal das gerações recentes – mas ainda assim entregando uma obra concisa, divertida e bem estruturada. As liberdades que a equipe criativa tomou com o enredo do cabeça-de-teia certamente chocarão alguns fãs. E isso é sensacional. O jogo seria uma experiência mais bruta se tivesse uma faixa etária de mais idade, mas certamente não seria o sucesso estrondoso que foi.
Vale a compra?
SIM. Cada minuto que você passa balançando pela cidade te faz ter mais certeza de que comprar Marvel’s Spider-Man foi uma das melhores decisões que você tomou esse ano.
Jogo exclusivo para Playstation 4