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O Xbox Series vai ganhar a próxima geração.

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Te digo o porquê (ou os porquês).

Toda novo início de geração é uma Guerra Fria sensacional, onde informação e hype são praticamente conversão direta em moeda corrente.

A empresa que mantiver as cartas na manga por mais tempo e sustentar a imagem de ser a dona da resposta definitiva de qual é a melhor casa para se jogar é quem ganha a dianteira da a geração. Quem ganha a dianteira da geração ganha a prioridade das pequenas e médias empresas de desenvolvimento de jogos, visto que os recursos dessas é pequeno para investir em todas as plataformas de primeira, gerando assim pequenos exclusivos que podem ou não se tornarem o próximo Rocket League. Ou, agora no fim da vida, Fall Guys.

Ser conhecida como a empresa que descobre os melhores jogos é tremendamente rentável. Rende memes como os “consoles não-playstation”, de tão desesperados que os sites ficam de colocar as keywords que mais chamam a atenção do público, e consequentemente cliques, tanto a favor quanto contra.

A rigor da palavra, a vencedora em vendas é a Nintendo, mas já tem umas 3 gerações que ela decidiu que vai começar a corrida no meio e continuar correndo sozinha. O Switch é uma máquina de imprimir dinheiro (depois do fracasso do Wii U) que se adequa bem a esse argumento mas, sejamos honestos, não faz mais parte da Console War.

switch

Dito isso, estamos numa corrida com dois participantes de plástico: Playstation 5 e Xbox Series X, os campeões de cada lado. Virtualmente temos o Google Stadia e o Amazon Luna, mas o mercado ainda parece estar pateando sem saber se a proposta deles vai ser o próximo Zeebo (console velho que teve dois compradores e uma rifa lá em Campo Grande. O vencedor reclama do prêmio até hoje) ou não.

Porém, inédito nessa geração, para que esses campeões possam atuar seus Sargentos precisam se organizar e disputar por um mesmo ponto, obsessivamente. É o sucesso da tropa que vai definir o sucesso dos monstros em desempenho

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Console War: Reprodução artística

Nesse aspecto o Playstation 5 driveless tecnicamente está na frente, por ser o mesmo hardware sem o drive de disco. Comparado com o Xbox Series S, também driveless, é mais do que o dobro de desempenho, sem contar o SSD quântico-atômico-cápsula-do-poder-de-Aiolia do ps5.

Mas então vamos falar de história.

Featured: como destruir seu oponente com 3 palavras

O Sega Saturn havia acabado de anunciar seu lançamento no ocidente, aos trancos e barrancos, por US$399. A falta de comunicação com os revendedores americanos levou a algumas empresas inclusive se recusarem a vender o console pelo ato. Como se não fosse suficiente tropeçar nas próprias pernas, sobe Steve Race, representante da Sony, fala “tchú náin náin” e sai do palco, determinando assim o recorde de speedrun any% pra destruir os sonhos dos seus oponentes.

Os consoles eram tecnicamente equivalentes, mas o Saturn era mais caro para desenvolver. A estratégia da Sony era simples: facilitar o máximo possível licenciar jogos no Playstation (coisa que a Epic Games tá fazendo, mas é assunto pra outro artigo). Técnica essa que ajudou a tratorizar o Nintendo 64 também, diga-se de passagem.

Acelerando um pouco: Playstation 2 vs Dreamcast vs Xbox.

Xbox era disparado o mais potente dos consoles, mas o Playstation 2 ainda era a casa dos jogos. Bicho, até hoje ainda é a maior biblioteca de jogos que já existiu e por isso ainda existe tanta gente produzindo uma versão pirata do console e vendendo como nova por aí

Próxima geração: Playstation 3 vs Xbox 360

PS3 apanhou a geração inteira, sem contestação. Ganhou a liderança no fim da corrida mas quem viveu a época viu a força do Xbox e como eram divertidas as Wars.

E, finalmente, chegamos à linha do meu argumento: Playstation 4 vs Xbox One

Dos 26 anos que eu acompanho videogame, acho que a geração atual foi a mais morna possível. Eu que vivi do lado Playstation só vi justificado o preço do console quando joguei Bloodborne mesmo. O console em novembro de 2013, e o jogo em março de 2015. O primeiro AAA legalzin antes disso foi Infamous Second Son e o fabuloso Knack que veio no lançamento

O Xbox além de passar por esse período morno sem jogo ainda tinha o detalhe insignificante de ouvir tudo que você falasse e registrar os movimentos das suas mãos durante a madrugada. Afinal, privacidade é coisa de normie.

Só que um ponto não me passou despercebido, à época. O então presidente da Sony, Shuhei Yoshida, deu uma entrevista para a Eurogamer (na verdade eu li na gamesindustry mesmo, mas beleza) dizendo que não tinha a menor ideia do porquê aquele troço de plástico quase sem jogo estava vendendo praticamente um milhão de unidades por mês.

Shuhei Yoshida: Estou perguntando ao pessoal do marketing o porquê. Eles conversaram com pessoas que já compraram, e alguns dos dados preliminares foram incríveis, em termos do número de pessoas que não possuíam um PS3 e compraram o PS4. Então temos muitos novos usuários entrando no Playstation, e algumas pessoas nunca compraram aparelhos da geração anterior: PS3, Xbox 360 ou Nintendo Wii. Então de onde vieram essas pessoas?

Minha proposta aqui é dar a resposta que não conseguiram chegar em 2014, e é somente uma palavra: Pirataria.

A Pirataria é tão constante e parte da cultura gamer quanto a console war, não importa qual declaração oficial seja feita. Só que o que vou relatar aqui vem da experiência pessoal de um jovem pobre, negro, que nem sequer se encarava como negro porque achava que o termo só se referia aos membros com o tom de pele mais escuro possível.

Nasci e fui criado em Campo Grande, RJ. Meu pai abandonou a família quando eu tinha 6 anos e ele só me deixou uma coisa que tinha me dado: um Master System com Sonic na memória. Eu adorava aquilo e foi de longe o jogo que mais terminei na vida. Nunca tive dinheiro pra fazer parte da geração Mega Drive / Super Nintendo sem ser visitando a casa do vizinho rico do bairro. Não sabia quem era Zelda. Passava meu tempo na escola desenhando Lemmings cavando nas imagens de relevo de geografia. Eu era o caçula de uma família de 5 irmãos, de pais diferentes.

Pulei a geração Snes/Mega. Meu irmão mais velho entrou pro Exército e um ano depois passou para a Escola de Sargentos das Armas. Me deu um Nintendo 64 porque eu estava estudando só com 10. Aí eu fui formalmente apresentado à senhorita Zelda e passei mais tempo em Hyrule do que em casa.

Meu irmão foi transferido para Recife. Minhas notas continuavam 10. Ele me deu um Playstation.

E aí minha vida mudou.

Antes eu só podia ter acesso a poucos jogos. Dois ou três jogos comprados, o resto a gente aluga fim de semana pra poder ter um dia a mais pra devolver.

No Playstation meu irmão podia comprar jogo ao invés de alugar (tudo pirata, obviamente). Eu nunca tinha sido tão feliz na vida.

Voltamos para o RJ. Eu ainda com meu Playstation. Passei a trabalhar numa pequena lan-house do bairro (daquelas que tinha vários consoles diferentes pra jogar). Ganhava um real a hora de trabalho. Trabalhava das 19 à meia noite. Fiz a prova de bolsão do Intelecto (O MELHOR CURSO DO RIO, dizia o carro de som), ganhei 90% de desconto na mensalidade. Meu maior orgulho foi pagar meu cursinho com meu próprio dinheiro.

Isso tudo ainda completamente afundado na Pirataria. A lan-house não tinha sequer um jogo original. Mas foi lá que eu joguei PS2, Xbox, Dreamcast, muitos outros títulos de Playstation que eu não conhecia, mais uma infinidade de outros que eu conhecia de nome. Foi trabalhando lá que eu consolidei meu aprendizado de inglês, que aprendi jogando videogame mesmo, e comecei meu aprendizado de japonês, que ainda hoje engatinha.

Aí chegou minha vez e fiz que nem meu irmão. Me alistei, sobrei. Prestei o concurso pra Sargento, passei pra mesma Escola que meu irmão foi um dia, quase 10 anos antes de mim. Meu primeiro salário com a primeira conta corrente que eu tive na vida. Não fazia nem ideia de como usar cartão de débito.

Por um ano e meio, junto com 332 conhecidos e amigos, eu passei pela experiência inenarrável de se tornar um profissional. Primeiro em São Paulo, depois em Três Corações, você conhece o valor dos seus amigos quando passa fome, calor e frio com eles.

me formei, vim para Campinas. Primeira coisa que eu fiz com meu salário de Sargento?

Comprar um Playstation 3. Usado, mas que funciona até hoje. Criei minha PSN ID. Criei duas, aliás. Uma brasileira para ganhar os troféus, que nem PS Store tinha ainda, e uma americana para comprar jogos.

Isso foi em 2010. O Playstation 3 foi lançado em novembro de 2006, 4 anos antes. E quatro anos depois ainda não havia uma Playstation Store brasileira. Foi lançada um ano depois. E não mudou muita coisa. Era a única store que copiava os mesmos jogos da Plus da US. Comprava jogos usados do Ebay, uma vez que já estava no meio da geração e tinha um backlog imenso pra jogar. Mas era a primeira vez que eu estava na geração. Jogando tudo original, com capinha e manual (sdds manuais).

Vale ressaltar que uma prática comum, não só minha mas de todos os amigos gamers com quem eu convivia, era comprar jogos que eu tinha zerado pirata antes. Minha PSN é cheia de jogos de PSX por esse justo motivo. Muitos eu nunca nem abri no PS3. Mas a gente sente a necessidade de devolver algo, mesmo que muito tardiamente, a jogos e franquias que tanta felicidade trouxeram pra gente.

2012 casei com a mulher da minha vida. Encaminhamos nosso primeiro filho (não necessariamente nessa ordem).

2013 nasceu meu menino. Minha cara. Encaminhamos minha filha.

2014 nasceu minha menina. Cara da mãe. Comprei meu Playstation 4 no mercado cinza, Santa Efigênia.

Se não dá pra ver o que aconteceu, eu repito: pirataria é um estado temporário. Conforme você melhora de vida, a tendência é correr atrás de legitimar seu passatempo com um compromisso.

OK, história bonitinha contada, o quê isso tem a ver com o título?

Simples.

NENHUMA EMPRESA DEDICOU TANTA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE QUALIDADE AOS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA QUANTO A MICROSOFT

Atendimento de qualidade, suporte, garantia, fábrica local, localização de jogos, you name it.

Segundo o ilustre Gabe Newell

Pirataria é um problema na prestação de serviço

Pense nessa minha história como um ciclo. Algo que vem acontecendo desde que Pong foi lançado. O Brasil é o país da Pirataria. E ainda assim oficialmente é o quarto maior consumidor de games do mundo. O que significa que enquanto as gerações passam e os consumidores mais novos começam na pirataria, os que começaram na pirataria e envelheceram escolhem qual vai ser a plataforma legítima que vão adotar.

Videogame reconhecidamente já é um hobbie absurdamente difícil de se ter quando você é pobre.

Aí entra o diferencial dessa nova geração: o driveless

Com a versão mais barata dos consoles você não vai ter a opção de comprar jogos usados. Ou compra no preço da Store (que a Sony acabou de aumentar para a base de R$300), ou não joga.

E adivinhe qual das plataformas tem um serviço com custo de assinatura inicial de R$1?

A Sony vai fazer alguma graça com a Plus Collection, mas a versão mais barata do serviço é R$24,99 por um mês. Isso para um console que já é US$100 mais caro que o seu concorrente direto.

A fidelidade dos jogadores latinoamericanos com a marca Playstation se enfraquece a cada vez que o boca-a-boca passa o quão bem tratado os consumidores de Xbox dessas regiões são.

Tudo o que o Xbox Series S, e consequentemente o X, precisa fazer para vencer a geração é entregar seja lá o que for que os 23 estúdios do Xbox Games Studios estiverem produzindo. A vontade de correr pra marca já está lá.