Hoje em dia existe praticamente uma subcultura gamer formada ao redor de jogos retrô. Shovel Knight, lançado em 2014, é possivelmente a maior razão para esse gênero ter ganhado tanta força nos últimos anos. O jogo, financiado pelo Kickstarter, fez tanto sucesso que recebeu ports para inúmeras plataformas e até hoje ainda recebe atualizações e expansões de conteúdo.
E agora, comemorando o lançamento da terceira campanha completa do jogo, o estúdio Yacht Club Games lança Shovel Knight: Treasure Trove, que reúne todo o conteúdo já produzido para o jogo:
- Shovel of Hope: O novo nome da campanha original, acompanhando a trajetória do herói que dá nome ao jogo.
- Plague of Shadows: A campanha do vilão Plague Knight, um engenhoso alquimista.
- Specter of Torment: A campanha do vilão Specter Knight e sua foice que ceifa almas.
Narrativa: 9,5
Cada campanha de Shovel Knight conta uma história diferente, mas relacionada.
– Shovel of Hope acompanha Shovel Knight, um honrado cavaleiro que precisa enfrentar A Feiticeira e o bando de Cavaleiros que ela corrompeu e ainda lidar com a perda de sua grande amiga e companheira, Shield Knight.
– Plague of Shadows acompanha Plague Knight, um dos cavaleiros do bando d’A Feiticeira que tenta se aproveitar de seus colegas para atingir seus objetivos pessoais.
– Specter of Torment serve como prólogo para a campanha principal, mostrando Specter Knight recrutando os cavaleiros para se juntarem ao grupo de vilões d’A Feiticeira.
A premissa de cada campanha é bastante simples a primeira vista, mas cada história se desenvolve bem e todas tem revelações e acontecimentos surpreendentes. Os personagens são carismáticos, bastante fáceis de se gostar, e os diálogos são bem escritos e engraçados.
Mecânica: 10
Shovel Knight tem controles precisos e design de níveis primoroso, o que o torna técnico e deixa claro que quaisquer mortes são de inteira responsabilidade do jogador. O jogo abre mão do tradicional contador de vidas e adota um sistema de punição inspirado em Dark Souls, deixando uma parte do seu dinheiro no local da última morte. Há também uma mecânica que dá a liberdade ao jogador de ajustar a dificuldade da fase a vontade: Num balanço entre risco e benefício, é possível destruir savepoints para receber bônus consideráveis em dinheiro.
Apesar de compartilhar das mesmas mecânicas básicas, cada personagem tem estilo e jogabilidade bastante diferentes:
– Shovel Knight é bastante equilibrado e técnico. Sua pá é usada como arma e como ferramenta para abrir caminho. Sua habilidade de atacar para baixo durante os pulos (tirada diretamente de Duck Tales) possibilita passagens bastante desafiadoras de plataforma.
– Plague Knight é o mais fraco e mais lento dos personagens jogáveis, usando de sua engenhosidade para superar obstáculos. Em jogo, isso se traduz em poderes como pulo duplo, ataques a distância e uma explosão carregada (que pode ser usado para realizar mais um pulo).
– Specter Knight é o mais ágil e tem o estilo de jogo mais agressivo. Com ele, o jogador correrá pelas paredes, pulará de uma parede para outra e usará um ataque teleguiado (parecido com o Homing Attack dos Sonics modernos) para atacar inimigos no ar e se deslocar pelo mapa com grande estilo. Praticamente um ninja!
Cada personagem tem um alto grau de customização a disposição. Há armaduras alternativas que conferem bônus ou habilidades especiais. Há também uma seleção de artefatos para cada um dos personagens, que podem ser usados como ataques especiais (alguns tirados diretamente de Castlevania).
Além disso, jogando no Switch tive a oportunidade de experimentar o novíssimo modo cooperativo! Nele, dois Shovel Knights avançam juntos, enfrentando inimigos com o dobro de vida e coordenando suas posições e tempo para permitir pulos mais altos ou mais longos que o normal. Os recursos são compartilhados, evitando competitividade desnecessária.
Quando um dos jogadores morre, ele perde parte dos recursos do time (que permanecem no mapa para serem recolhidos) e pode reviver imediatamente, mas com metade da vida atual do outro jogador. Um time que não trabalha bem junto não vai prosseguir na fase e vai acabar perdendo seu tempo e seu ouro, mas um time que saiba cooperar vai conquistar vitórias mais rápidas e ainda mais divertidas!
Audiovisual: 10
Pense no seu jogo favorito de NES. O visual, as cores e as músicas parecem perfeitas na nossa memória, mas as limitações dos consoles da época deixam tudo um pouco menos brilhante na realidade.
Shovel Knight emula perfeitamente tudo o que lembramos de bom daquela época. O jogo traz sprites e cenários pixelados e músicas simples mas incrivelmente viciantes, e o faz usando de tecnologia para adicionar um polimento que seria impossível 20 anos atrás.
Sim, o visual usa pixels – mas há uma imensa variedade de cores (ao invés das poucas permitidas pelos consoles de 8 bits), há efeitos paralax no cenário e um número incontável de partículas renderizadas simultaneamente.
Sim, as músicas usam chiptune – mas com muito mais canais de som do que um console de 20 anos poderia reproduzir, e sem a necessidade de tirar o som de algum instrumento sempre que o jogo precisa reproduzir um efeito sonoro.
O jogo faz tudo para que tenhamos a experiência que nos lembramos, mascarando todos os problemas que tendemos a esquecer devido ao fator nostalgia.
Considerações Finais:
Shovel Knight herda estilo e mecânicas de diversas fontes, tanto clássicas quanto modernas, juntando-as harmoniosamente numa experiência com identidade própria. O jogo reproduz tudo o que havia de bom e memorável nos clássicos do nosso passado, mas sem medo de modernizar e melhorar o que não funcionava tão bem. Por baixo desta fina camada de sons e visuais retrô, há um jogo sólido, moderno, e de design e acabamento impecáveis.
Na minha humilde opinião, o melhor indie de todos os tempos.
NOTA
Narrativa = 9,5
Mecânica = 10
Audiovisual = 10
GERAL : 9,9
Versão de Nintendo Switch
