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Call of Cthulhu

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Review de Samuel Auras, rpgista nato e fã de Lovecraft

 

Quem curte as obras de H.P. Lovecraft está vivendo uma época ótima. O mundo criado pelo mais famoso escritor de horror da história está servindo de base para séries, filmes, jogos de tabuleiro e videogames. Alguns destes apenas se inspiram no sentimento por trás de histórias como Montanhas da Loucura, O Chamado de Cthulhu, mas outros realmente vão fundo na mitologia. Eldritch Horror, por exemplo, é um jogo de tabuleiro excelente que traz centenas de personagens, monstros, maldições, itens, histórias, e, claro, deuses anciões vindos de outras dimensões.
Call of Cthulhu, o lançamento da Focus Home Interactive (mesma empresa que publicou jogos como Blood Bowl e The Surge), fica meio que no meio do caminho. É um jogo que se propõe a explorar a principal e mais famosa história do extenso catálogo de H.P. Lovecraft, de mesmo nome do jogo, e, enquanto ele consegue trazer o clima, as referências, e alguns personagens interessantes, peca em deixar tudo muito superficial.

 

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A história se passa em Darkwater, uma cidade fictícia em uma ilha no litoral dos Estados Unidos. A cidade é lar de pescadores, e conta com um bar, um hospital, casas mal-assombradas e histórias aterrorizantes.

Em Call of Cthulhu, o jogador entra na pele de Edward Pierce, um veterano de guerra que trabalha como detetive particular na década de 1920. Com sua carreira em perigo, Edward aceita investigar a morte de uma família que, aparentemente, morreu em um incêndio acidental. Isso serve de gancho para levar Edward a Darkwater, onde a família morava. A partir daí, a investigação leva a descobertas de coisas ocultas e muito mais estranhas acontecendo por toda a ilha.

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Edward Pierce em seu escritório, esperando um novo caso.

O jogo é completamente focado na narrativa. A história é, no geral, bem escrita e detalhada, e o jogador vai descobrindo dicas e desvendando mistérios organicamente, em seu próprio ritmo. Se você apenas for fazendo os objetivos que o jogo manda, a história vai parecer bastante confusa, mas investindo um pouco de tempo para ler documentos, vasculhar gavetas e conversar com personagens é recompensado com uma história bastante interessante. A inspiração no conto homônimo de Lovecraft, O Chamado de Cthulhu, é bem clara, e quem já leu com certeza vai notar similaridades, mas a história do jogo é original.
O jogo é primariamente uma aventura de investigação. Você precisa conversar com pessoas, persuadindo-as a revelar informações e segredos. Em outros momentos, será necessário entrar escondido em casas, encontrar itens, resolver quebra-cabeças, e, aqui e ali, fugir e combater inimigos. Um ponto muito positivo é a grande variedade que o jogo traz – raramente você estará fazendo exatamente a mesma coisa que fez no capítulo anterior. Além disso, claro, por ser um jogo com uma história de horror cósmico e psicológico, você pode esperar sequências bem malucas e com a jogabilidade bem modificada, simulando a loucura que o personagem começa a sentir durante a história.

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Em cada canto do jogo, você pode encontrar livros, cartas, mapas, anotações, tudo quanto é coisa com referências às histórias de H.P. Lovecraft, algo que com certeza agrada muito os fãs do autor.

Um excelente detalhe deste jogo é que várias situações apresentadas ao jogador podem ser resolvidas de diversas maneiras. Bem no início, Edward Pierce precisa se infiltrar em um galpão para procurar pistas. O jogador pode fazer isso de diferentes formas – convencendo alguém a lhe ajudar a entrar, arrombando a porta escondido, encontrando um caminho alternativo… Cada opção requer um tipo diferente de habilidade – Investigação, Força, Eloquência, etc – que o jogador pode escolher desenvolver no investigador. O sistema de progresso do personagem serve primariamente esse propósito – você escolhe investir seus pontos de atributo em certas habilidades, e, com isso, abre novas possibilidades de diálogos,interações com o cenário, etc. É um jogo que cada jogador terá uma experiência diferente.
Nem tudo são flores. Mesmo com todas estas escolhas, a história em si é bem linear, o jogador apenas escolhe como chegar do ponto A ao ponto B. Isso tira um pouco a graça de jogar mais de uma vez, pois mesmo você fazendo escolhas e descobertas diferentes, não vai acontecer nada de realmente novo. Pelo menos não até o final do jogo – múltiplos finais estão disponíveis, e a possibilidade do jogador de fazer cada um destes finais depende das escolhas feitas e de como cada desafio foi encarado.

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“Tudo já está escrito.” – Nunca essa frase foi tão verdade.

Resumindo: a trama do jogo é boa e divertida, os caminhos são vários, e temos alguns finais disponíveis, então se você for o tipo de pessoa que gosta desse tipo de história – de investigação com aquele pé no sobrenatural e no macabro – com certeza vai curtir a narrativa de Call of Cthulhu. Não é nada espetacular que vá mudar a sua vida, mas é bem legal. Em todo o resto, porém, o jogo deixa um pouco a desejar.
O jogo tem um climão muito legal, com a ambientação perfeita para uma história de terror no início do século XX. A qualidade gráfica, porém, segura um pouco o jogo nesse aspecto, com texturas pouco detalhadas, personagens com expressões esquisitas e efeitos bem simples. O jogo também tem poucas músicas e efeitos sonoros, e os diálogos dos personagens também não tem atores lá muito convincentes. Nada chega a atrapalhar tanto, mas percebe-se que não é um jogo com um orçamento tão alto com tanta atenção a detalhes.

IMAGEM 5
Visual macabro, mas gráficos que não dão a isso o destaque merecido.

Call of Cthulhu é um bom jogo para fãs do gênero e, principalmente, fãs da obra de Lovecraft. Bem ambientado, com momentos surpreendentes e outros meio chatinhos, a melhor coisa é que ele não se estende demais e termina no momento certo. Enfim, um jogo com altos e baixos, mas que provavelmente vai agradar o seu público alvo.

Narrativa: 8,0
Mecânica: 7,0
Audiovisual: 6,0

MÉDIA: 7,0