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Por Anderson do Patrocínio

É inegável que hoje os videogames gozam de uma popularidade nunca vista – inclusive, arrisco dizer que este é o seu melhor momento. Camisetas em lojas de departamento e brindes em redes de fast-food colocam o assunto nas discussões do dia a dia, junto com a grande onda de nostalgia pelos anos 80 e 90, fenômeno que parece não ter fim e que atinge também outras mídias, mas nos videogames encontra um confortável abrigo em ícones e estéticas bastante representativas para essas décadas.

E em meio a tudo isso temos 198X, jogo pensado de maneira episódica e cujo primeiro ato foi recém lançado pela Hi-Bit Studios para PS4 e PC (em breve para outras plataformas), utilizando-se das convenções acima para construir uma narrativa nostálgica sobre adolescência e videogames.

Acompanhe nossa análise e entenda melhor do que se trata essa curiosa obra.

Seguindo uma forte tendência dos jogos independentes, 198X foi anunciado por seus produtores como um jogo focado em narrativa. Trata-se de uma história que se passa em Suburbia, distrito remoto de uma cidade grande dos anos 80 e onde habita o protagonista, apresentado de maneira genérica como “Kid”.

Como todo adolescente envolto em videogames, Kid vai além do que os jogos são como produto e os enxerga como uma verdadeira experiência imersiva, e é partindo dessa premissa que temos a estrutura e o gameplay em 198X; cada fase corresponde a um jogo que Kid está experimentando, passeando por gêneros bastante comuns à época, como corrida, beat’em up (briga de rua) e shoot’em up (navinha). Basicamente, é uma coletânea retrô que utiliza metalinguagem como ferramenta narrativa.

Enquanto 198X nos permite experimentar um gameplay fiel a cada um dos gêneros, as experiências emocionais do protagonista ganham espaço em cutscenes muito bem feitas. De maneira geral trata-se de um jogo muito bonito, pensado para encher os olhos de amantes da pixel art noventista.

A sonoplastia é apenas competente; alguns trechos narrados dão o tom da personalidade de Kid enquanto o gênero synthwave forma uma camada sonora agradável, embora não memorável. Dentro de cada um dos gêneros o som se encaixa até que bem, embora nunca seja se fato um destaque.

Tanto a beleza gráfica quanto a boa aplicação dos sons formam o conjunto essencial para a experiência do jogador, já que o apelo nostálgico dessa época está muito ligado não apenas a como os jogos eram, mas também a como eles pareciam ou pretendiam ser.

Se até aqui você ficou interessado, saiba que existem limites para o alcance das intenções de 198X. O jogo é extremamente curto e ao dizer isso, estimo que em 40 minutos um jogador médio consiga chegar a seu desfecho; e eis que então surge outro problema: basicamente, não há um desfecho.

Fica claro que o maior apelo de 198X se baseia no elo emocional de seu público alvo com os videogames, porém, cada uma das fases é extremamente curta e quando você chega ao ponto de ser fisgado por aquela proposta, tem a experiência interrompida pelas reflexões do protagonista e o problema a aqui é justamente esse: existe uma dissidência entre o êxtase que o personagem central vive como parte daquele mundo narrativo e a sua frustração como jogador em ter uma experiência que foi interrompida ou que não atingiu o clímax dentro daquele gênero. Tudo isso quebra a imersão de uma maneira irrecuperável, turvando a proposta básica de rememorar jogos passados de nossa infância ou reconstruir essa afetividade com os jogos próprios de 198X.

No fim, os jogadores na faixa dos 30 anos até podem ser fisgados pela proposta inicial da Hi-Bit Studios, mas concluir esse episódio não fará com que se sintam especiais; trata-se de uma bonita e nostálgica experiência insossa.