Gostou de Bloodborne? Ótimo, pode comprar Morbid: The Seven Acolytes de olhos fechados, nem precisa ler o resto da análise. Pode continuar lendo pra prestigiar o colega aqui, mas a verdade é que Morbid é, pura e simplesmente, Bloodborne em 2D com câmera vista de cima, no bom estilo isométrico que era tão comum antigamente mas hoje já não é mais tão visto. Não que o jogo não tenha suas peculiaridades, e longe de ser uma imitação, afinal Morbid tem muita coisa legal e original, mas a inspiração no melhor jogo da geração passada (empatado com Persona 5…) é muito clara e muito positiva.
Morbid: The Seven Acolytes é um jogo 2D de gráficos pixelados baseado nos jogos da From Software, desde os Dark Souls até Bloodborne, de quem o jogo tira as maiores inspirações. A história de Morbid é, superficialmente, bem simples: você joga como um guerreiro que tem como missão derrotar os sete acólitos e salvar o mundo. O legal é toda a história contada através dos itens e dos personagens e, principalmente, do visual do mundo, que é baseado nos mitos de Cthulhu. O mapa inicial é uma vila de pescadores tomada por criaturas bizarras e sinais de que algo muito sinistro aconteceu por ali, e todas as áreas e inimigos seguintes só aumentam o nível de loucura.
Como qualquer jogo inspirado por Dark Souls e Bloodborne, Morbid se importa muito com seu sistema de combate, e nesse quesito, fico muito feliz em dizer que o jogo entrega uma experiência nada menos do que fenomenal. Confesso que na primeira meia hora de jogo estava encarando Morbid como um hack’n’slash, e obviamente não estava funcionando. Quando percebi que o combate era mais cadenciado tudo fez mais sentido. Você tem, desde o começo do jogo, ataques fracos (mais rápidos) e fortes (mais lentos), um botão dedicado de parry para contra-atacar na hora certa, uma arma de fogo para atacar de longe, mas com munição extremamente limitada, e um desvio que faz o personagem rolar para fugir do perigo. Tudo isso, claro, controlado pela famosa barrinha verde de stamina, que deve sempre estar na cabeça do jogador, afinal a falta de stamina para desviar de um ataque mais poderoso significa a morte.
Além da jogabilidade excelente no combate, Morbid tem um sistema peculiar de experiência e níveis. Você encontra estátuas pelo mundo que te dão bênçãos, e a partir daquele momento você pode usar seus pontos de habilidade adquiridos a cada subida de nível para melhorar uma daquelas bênçãos. Elas são habilidades passivas poderosas, como melhoria na velocidade de recuperação da stamina, aumento na potência dos “frascos de Estus” do jogo – poções que você sempre carrega consigo e que são recarregadas a cada checkpoint, entre outras. As similaridades com Dark Souls e Bloodborne realmente são muitas, e não param por aí. Os inimigos em Morbid podem deixar cair, quando derrotados, runas que podem ser colocadas nas suas armas para que elas tenham mais velocidade de ataque ou efeitos secundários como recuperação de HP a cada ataque. A customização do personagem é limitada a isso – as bênçãos e as runas das armas – mas, embora seja pouca coisa, é suficiente para o que o jogo se propõe. Não vou dizer que não faz falta a presença de diferentes armaduras para que cada jogador pudesse criar o próprio estilo de jogo, mas Morbid funciona bem desse jeito mais simples, e a qualidade geral do combate faz a diferença.
Apesar de ter um sistema de combate fenomenal e um mundo super interessante de explorar e com uma rica história, em uma área específica Morbid deixa a peteca cair um pouquinho. O maior ponto negativo é a confusão da navegação do jogo. As áreas que o jogador deve explorar são labirintos muitas vezes bem complexos, e visualmente é bem difícil saber onde você deve ir a seguir. Morbid também comete o mesmo erro de muitos outros souls-like – erro que eu mesmo critiquei duramente na minha análise de Mortal Shell, por exemplo – que é a ausência de um mapa. O level design de Morbid não está no nível de um Dark Souls ou Bloodborne para que o mapa não seja necessário. Com certeza Morbid seria um jogo muito mais divertido se eu não tivesse ficado um bom tempo tentando lembrar onde foi que vi certo personagem pra entregar certa missão secundária, ou onde foi que vi um caminho alternativo que decidi, na hora, não seguir, mas que agora preciso encontrar para avançar.
Mesmo assim, explorar esse mundo é uma experiência super positiva e muito legal. O design dos inimigos, principalmente de alguns chefes, é super bizarro e, às vezes, Morbid consegue ser bem perturbador e sangrento. Uma carta de amor a Bloodborne, Morbid certamente vai agradar qualquer fã dos jogos da From e, ainda mais, fãs da mitologia de Cthulhu de H. P. Lovecraft. Um sistema de batalha excelente é o que realmente importa em jogos desse tipo, e isso Morbid tem de sobra. Faltou aquela atenção a certos detalhes para que fosse um jogo imperdível, mas o público alvo (eu, por exemplo) vai ficar bem satisfeito.