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Bloodstained: Ritual of The Night

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Por Anderson do Patrocínio

Bloodstained: Ritual of the Night é um projeto tão ambicioso quanto passional, tornando-se um dos jogos mais aguardados dos últimos anos e que finalmente tem sua estréia nos consoles da geração atual.

Viabilizado por meio de financiamento coletivo, Bloodstained foi prometido como um resgate à maneira mais tradicional de se fazer um jogo no estilo Metroidvania, ou seja, uma aventura 2D com foco em exploração através da aquisição contínua de habilidades. O título vem desde 2015, época de seu anúncio, causando um misto de ceticismo e devoção, já que seu mentor é o lendário Koji Igarashi, responsável por nada menos do que Symphony of the Night, o Castlevania que carrega o legado de ser um dos jogos mais celebrados de todos os tempos e tido como insuperável entre todos os Metroidvanias. E sim, é impossível analisar este jogo sem comparar com SotN, então espere muitas menções ao clássico de PS1; é inevitável, porém necessário e até mesmo justo com os fãs do gênero.

Analisamos a versão de PS4 e contamos pra você o que achamos.

Bloodstained traz uma história com elementos comuns na série Castlevania, envolvendo questões espirituais e a clássica luta do bem contra o mal, não se preocupando muito em inovar dentro dessa premissa, mas sendo competente para justificar as motivações dos personagens. A protagonista é Miriam, que desde criança é envolvida com questões ocultas e que possui cristais em seu corpo, permitindo que ela faça uso de poderes sobrenaturais. Em contraponto a Miriam temos Gebel, seu amigo de infância e que possui poderes semelhantes, porém, está envolto no aparecimento de um misterioso castelo e portanto faz o papel de antagonista. Como não estamos falando de um jogo baseado em narrativa, o tom mediano da história não chega a incomodar, porém, também não há grandes momentos e nem personagens que sejam realmente cativantes, o que é um ponto a se considerar quando esbarramos na inevitável comparação com os outros jogos de Igarashi.

De início já vale mencionar o visual geral, que possui uma direção muito bonita na construção das ambientações, estas sendo bastante variadas e harmônicas entre si. Alguns lugares são mais bonitos e se destacam pelo acabamento, mas de maneira geral o jogo é bem nivelado e extremamente agradável aos olhos. A direção de arte aposta em tons góticos, mas com um colorido que a deixa menos sombria do que SotN.

Na jogabilidade não temos grandes inovações, até mesmo porque foram anos de refinamento em títulos anteriores da série Castlevania. Miriam pode atacar com uma variedade imensa de armas, num arsenal que inclui katanas, adagas, floretes e até armas de fogo, além de desferir chutes muito poderosos. Você explora de maneira gradual, conforme adquire novos equipamentos e habilidades, interagindo com alguns NPCs que te passam missões secundárias alternadamente, enquanto dilacera hordas de monstros em ambientes labirínticos. Aqui, a falta de mais novidades se torna um ponto positivo, já que as expectativas de quem apoiou o projeto são justamente para que se mantenha a proximidade com o gênero clássico, ou seja, sem questões mais recentes de design, como níveis procedurais ou morte permanente. Tudo funciona basicamente como uma mistura de SotN e Order of Ecclesia, onde matar inimigos te permite subir níveis e coletar cristais de dá certas vantagens de ataque ou de exploração.

Em relação à trilha sonora, temos um trabalho magistral de Michiru Yamane e Ippo Yamada. Claramente inspiradas em SotN, as composições remetem a familiaridades que estão plantadas no subconsciente dos fãs da série, casando perfeitamente com ambientes já consagrados, como a biblioteca, os jardins ou a catedral. Tudo é recheado dessa familiaridade confortável e certas composições arrancam suspiros e sorrisos desde os primeiros acordes, como suas versões espelhadas fizeram em SotN há mais de vinte anos.

Porém, nem tudo são flores e o jogo tem lá seus erros de concepção e de técnica. A começar pelos chefes, muitos dos quais são inexpressivos e não apresentam grande integração com o enredo. Sim, eu já falei aqui que não se trata de um jogo baseado em narrativa, porém, é desejável que um chefe tenha motivação diferente dos inimigos comuns e seja integrado à lore do jogo, mas muitos deles em Bloodstained são apenas um inimigo mais forte e derrotá-los trás ao jogador um sentimento de indiferença, não de superação.

Fora essas questões, existem problemas de performance com a taxa de quadros, sendo que em certos momentos o slowdown chega a incomodar, além do mais, eventualmente o jogo dá uma pequena travada quando você ataca, te deixando apreensivo com a possibilidade de algo dar muito errado (você perder o progresso ou coisa do tipo).

Apesar de seus problemas, entendo que se trata de um jogo exemplar ao entregar aquilo que prometeu e replicar com fidelidade uma experiência já delimitada desde a concepção. As quinze horas que compõem a exploração completa de Bloodstained: Ritual of the Night são extremamente satisfatórias. Esse jogo é como uma carta de amor escrita a todos os fãs de Castlevania, que esperaram duas décadas para jogar um herdeiro legítimo da franquia em um console de mesa.

É muito complexo colocar em palavras algumas sensações que beiram à intimidade, mas o sentimento de jogar um Metroidvania concebido por Koji Igarashi é uma das coisas mais únicas para um fã de videogames; é uma experiência sensorial que não se pode replicar com facilidade. Pelo conjunto da obra, Bloodstained se junta a Super Metroid, SotN e Hollow Knight para fechar a quadra dos melhores jogos do gênero.